PPF #2 - BURIED BY LAVA


Mudam-se os tempos... ficam as vontades. A popular expressão altera-se para caracterizar a essência dos BURIED BY LAVA - um grupo de amigos de longa data, que se cruzaram em anteriores projectos, e que por contingências próprias destas lides decidiram dar um novo rumo às suas carreiras. Recuperam-se velhos intervenientes - Steven Medeiros regressa sete anos depois - e maximiza-se uma experiência e um talento que floresceu naturalmente com o tempo e o trabalho. O resultado é «Blind Truth», gravado entre os Açores e a Suíça, uma estreia que mostra o colectivo a dar um passo (sério) em frente em termos de composição e a provar que não é apenas uma versão 2.0 dos FAKE SOCIETY. O gosto pelas sonoridades modernas mantem-se, mas o produto final está muito mais refinado e holista. O metal no arquipélago já viveu dias muito melhores, mas ainda há quem arremesse bons e graúdos pedregulhos para o charco. 

Formação: 2017
Origem: Nordeste, São Miguel (Açores)
Estilo: rock/nu-metal
Elementos:
Steven Medeiros (voz)
Hugo Oliveira (guitarra)
Luís Pacheco (baixo)
Cláudio Fernandes (bateria)
Discografia: 
«Blind Truth» (28.05.2020 - edição de autor)
Link: www.facebook.com/buriedbylava

PASSADO


Hugo Oliveira: Esta banda foi um ressuscitar de quatro músicos e uma espécie de reencarnação de um antigo projecto que estava praticamente morto. Todos nós tínhamos sido parceiros nos FAKE SOCIETY e havia uma boa relação, acima de tudo. Foram bons tempos, muito divertimento, inúmeros concertos em palcos de grande e pequena dimensão e com público frenético. Digamos que a cena do rock/metal ainda respirava saúde nos Açores. Foram sete bons anos, mas claro que com as inúmeras alterações do lineup, os longos períodos sem voz, ausência de ensaios, fizeram com que se perdesse hábitos, princípios e os objectivos do grupo. Foram tempos que qualquer um de nós jamais se irá esquecer, mas ficam as histórias, a experiência adquirida e as fotografias para recordar mais tarde. Em 2017, eu, o Cláudio e o Luís continuámos com os ensaios de forma a manter o ritmo e o gosto pela música, mas claro que com o tempo "o barco só metia água por todos os lados" em vez de gerar prazer e amor pela música. Já estávamos a entrar numa fase de ódio e tristeza, havia um vazio, uma sensação de impotência - estávamos apenas a ver "um barco a ir ao fundo e nós a irmos com ele". Aí sim, entra o Steven. Um grande amigo de longa data e alguém por quem tenho grande estima e admiração. Por motivos pessoais ele teve que abandonar o país, nos finais de 2012, andava eu a produzir uns temas em casa nos primeiros meses de 2017, diferentes da minha zona de conforto, e precisava de alguém para fazer as vozes. Claro que ele foi a primeira pessoa que me veio à cabeça. Com alegria e entusiasmos ele aceitou e até seria uma boa forma de mostrar algum trabalho em Zurique, cidade onde reside, e tentar-se integrar na cena musical da cidade, uma vez que a música sempre fez parte da vida dele.


Steven Medeiros: O último projecto de que fiz parte foi FAKE SOCIETY. Abandonei-o cinco dias antes de viajar para a Suíça, com um concerto que nunca vou esquecer. Sempre mantive contacto com a banda e sempre que ia de férias a São Miguel juntávamo-nos para curtir um som, tomar uns copos e reviver o passado. Mais tarde, em conversa com o Hugo, começou de novo a ideia de fazer alguma coisa, mesmo que vivêssemos em locais diferentes. Ele falou da ideia ao Luís e ao Cláudio e estes mostraram também entusiasmo em fazer algo novo. A partir daí, tudo se desenrolou até criarmos este EP.


Hugo Oliveira: Passado algum tempo, e de forma natural, veio à mesa a possibilidade de começarmos tudo do zero, abdicar do nome FAKE SOCIETY, de todos os temas criados, das conquistas, das histórias e começar algo completamente diferente. Esse foi o foco, mas sabíamos que ia ser bem mais difícil do que se tinha feito anteriormente. A mentalidade teve que mudar por completo - criar uma nova sonoridade e sair da zona de conforto foi de loucos!


PRESENTE


H.O.: Hoje as coisas são muito diferentes. Temos o nosso EP que nos deu uma carga de trabalho e um enorme gozo em produzi-lo, que tanto queremos defende-lo e mostrá-lo ao vivo com as melhores condições possíveis e com o devido respeito que merecemos. Sei que o panorama musical mudou por completo, seja nos Açores ou até mesmo em Portugal Continental, mas principalmente nos Açores o metal quase que não existe. Para além de ter sido marginalizado e mal pago, os próprios músicos deixaram de criar as suas próprias músicas e de acompanhar a evolução musical. O mercado abriu-se de tal forma que permite que grandes músicos possam tocar em bares com regularidade, hotéis, festas de grandes e pequenas dimensões, casamentos, entre outros eventos, e serem relativamente bem pagos com os seus projetos de covers. Por outro lado, temos os DJs que começaram a ganhar terreno com o progresso da tecnologia e pelas modas das novas gerações. Tudo ficou mais difícil para uma banda como a nossa.

S.M.: Os BURIED BY LAVA têm como principal objectivo mostrar-se em todos os sítios possíveis e fazer a nossa música ser ouvida nos mais diversos países. O «Blind Truth» é um trabalho de que nos orgulhamos muito! Todo o processo está a ser concretizado por nós, à excepção da mistura e masterização, que ficou a cargo do José Miranda, com quem já tínhamos trabalhado, e da capa, feita pelo Xavier Ramos, artista também ele açoriano. Pena estarmos a passar por esta fase menos boa no mundo, pois o que queríamos mesmo era apresentar este projecto ao vivo, que é onde nos identificamos melhor - em cima de um palco, com uma carrada decibéis a bater bem forte e muito mosh! Continuamos a trabalhar em novos temas e a prepararmo-nos para, quando for possível, apresentar este novo projecto ao vivo.


H.O.: Estamos a fazer as coisas por nós mesmos, sem ordens de A,B, C ou D. Não estamos nisso por ser uma modinha e os nossos temas não foram feitos para serem consumidos como algo descartável. Estamos muito focados e ainda temos grande parte dos nossos objectivos por concluir. "O barco já anda em alto mar sem meter água".

FUTURO


H.O.: O futuro é uma incógnita, nem com uma bola de cristal o vamos descobrir! O mercado da música é gigantesco, repleto de músicos virtuosos e tecnicamente evoluídos. É assustador! Hoje, a quantidade de bandas existentes torna o trabalho das promotoras e editoras mais difícil; primeiro, porque não têm tempo para ouvir todos os projectos que lhes são enviados; segundo, porque não acredito que queiram correr tantos riscos como nos anos 70, 80 ou 90. Isto para não falar dos agentes ou agências que organizam eventos - nada como reaver o dinheiro investido de forma rápida. É tudo feito para ser consumido rápido, tal como o fast-food, querem a garantia do retorno desse investimento. Cabe-nos lutar por merecer o nosso espaço, seja onde for.

S.M.: Vamos continuar a trabalhar no duro para que os objectivos da banda se concretizem. Queremos fazer música até não haver fim e com muitos concertos à mistura, não só nos Açores como em todos os locais possíveis. Subir aos palcos e partilhar o nosso sonho, conviver com outros e novos músicos com novas ideias e trabalhar sempre em material novo. Pessoalmente, não vejo a hora de partilhar um palco com este quarteto, seja para 1.000 pessoas ou 50, até porque num palco baixo com 50 pessoas a olharem-te nos olhos, com metal a correr nas veias, vale bem mais para mim do que 1.000 que vão pela cerveja a um euro. Atenção, não tenho nada contra a cerveja a um euro, antes pelo contrário!


Oiça «Blind Truth» na íntegra aqui.

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