PPF #1 - COMMANDO

Passado, Presente e Futuro - assim se divide esta quarta dimensão que é o tempo e da qual (ainda) ninguém fugiu. Para as bandas, o primeiro pode confinar-se a uma mera garagem bolorenta ou ainda àquele momento em que um familiar nos oferece um instrumento de baixa gama; o segundo pode ser a urgência da composição, da gravação e a promoção de uma qualquer visão artística; o terceiro pode traduzir-se em sonhos, numa digressão pelos maiores palcos do mundo ou num disco de platina para emoldurar orgulhosamente, mas a verdade é que escapa-nos à visão (e ao resto dos sentidos - fica a cargo dos tarólogos). Uma arquitectura que serve para colocar os músicos em discurso livre e directo (sem divã, máquina do tempo ou perguntas estereotipadas) com a esperança de que, no mínimo (!), lhes comprem um disco.


Formação: 2017
Origem: Lisboa
Estilo: punk/thrash/hardcore/crossover
Discografia: 
«Love Songs #1...» (13.04.20 - Firecum Records)
Link: www.facebook.com/cmdthrashpt

PASSADO

Rui Vieira: Eu e o José já nos conhecemos há cerca de 28 anos. Nessa altura - por 91, 92 -, frequentávamos alguns concertos na zona de Torres Vedras e também noutros locais. O início da década de 90 foi decisivo para o que viríamos a fazer mais tarde. Nessa altura, o grind/hardcore/punk/crossover/thrash tomava o "pessoal" de assalto. Foi uma época em que apareceram muitas bandas dos estilos referidos. Eram organizados bastantes concertos de "autor", de amigos para amigos. Recordo, com muita saudade, as actuações de VADE RETRO (Peniche) ou ENSLAVE e EXTREMA MUTILAÇÃO AUDITIVA, ambas de Torres Vedras. Às vezes, não é preciso ser uma banda grande para nos influenciar para a vida. Pode ser a banda do teu amigo, da tua rua. Estas "festas" do pessoal de cabelo comprido, calças elásticas e bota-ténis d’Adidas, eram rituais absolutamente fascinantes. Carregavam um feeling inacreditável: o da descoberta!

José Graça: Sem dúvida que foram tempos memoráveis. Era uma altura em que fazíamos amizades que, mesmo com o passar dos anos, iam perdurar e eram feitas sem os pretensiosismos de aparecer numa foto de um qualquer feed ao lado do "gajo" que tem uma banda (porque a maioria de nós na altura tinha uma banda). Eram simplesmente pelo conhecer de novas pessoas, novos gostos e novas bandas! E foi assim que eu e o Rui nos conhecemos, num daqueles concertos "caseiros" que estavam tão na moda na altura e que nos moldaram para a vida, e que se calhar já estava na altura de entrar na moda novamente, com o nome vintage ou com outro nome idiota em inglês, como parece que tem tudo agora.

PRESENTE

R.V.: Hoje, não existe esse sentimento, essa experiência. Os concertos realizados nos locais mais improváveis são raros. As mega-produções dominam, ao melhor estilo fast food (eu também gosto e "petisco", não posso negar), e o sentimento de "bairro" perdeu-se. Não só nos gigs mas também na música, a alma é algo que não é alimentado. Com a rapidez dos nossos tempos, muitas coisas são feitas apenas para mostrar e agradar, seguindo uma moda, para aceitação das massas. COMMANDO ou ANCHARGE, são dois projectos que erguem o "dedo do meio" de forma altaneira e orgulhosa! A arte e desafio é a premissa, queremos fazer a nossa cena o melhor que podemos, sem ceder a "modas ou modinhas". Para quê perder tempo se não para fazer algo com o mínimo de originalidade? Hoje em dia, sou capaz de ouvir 100 bandas e apenas uma sobressai com algo que valha a pena ouvir outra vez. Lamento a extrema falta de individualidade, cópias descaradas da moda em voga, sem qualquer vitamina para a alma. A arte é para fazer pensar, confrontar, causar desconforto, até.

J.G.: Tenho plena consciência que esses saudosos tempos foram tempos únicos e que fizeram parte do que é o metal/punk/hardcore/etc. no nosso país. Sei que os dias de tocar em casas abandonadas em que o mosh ajudava na demolição de paredes já lá vão, mas sei que houve uma evolução. Eu acho que o que nós tentamos fazer com o nosso som em ambos os projectos que temos é, em primeiro lugar, fazer algo que nos dê prazer e muita alegria, porque estar a fazer algo que vá ao encontro do que se faz agora em termos de "tendência", para nós, não era viável e, felizmente, temos isso em comum, o que faz de nós uma dupla a ter em conta, porque fazemos o que queremos, não o que anda por aí. Mas pegando nessa tal evolução que falei antes, temos sempre como objectivo fazer melhor e bem feito. Como dizemos em COMMANDO: brincamos de uma forma séria.




FUTURO

R.V.: Não julgo que seja um projecto que se esgote num único álbum mas também pode acontecer. Tudo tem uma magia do momento, o "momentum", a fotografia musical daquela vontade e esforço. Mas haverá sempre qualquer coisa. Depois de COMMANDO, fundámos ANCHARGE e já gravámos e lançámos um álbum em menos de nada! Até ver, somos uma máquina oleada para compor e gravar, aceitamos desafios de uma forma muito natural e descontraída mas sempre com "sentido de missão". É importante deixar memória e é nisso em que estamos empenhados.

J.G.: Acho que o futuro é, basicamente, o que nós quisermos. Há tantas possibilidades na mesa... É só as coisas se conjugarem, o momento aparecer, que elas vão surgir naturalmente, o que é, na minha opinião, uma das nossas melhores características como dupla criativa - a naturalidade e a espontaneidade. Podemos ver no futuro COMMANDO nos palcos, podemos ver no futuro um álbum novo de COMMANDO... Sei lá o que poderá acontecer, mas uma coisa é certa: estamos por cá, vamos dar nas vistas, e principalmente vamo-nos empenhar ao máximo em prol da nossa arte, mesmo que brincando de uma forma muito séria.

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