PPF# 3 - PALHA D'AÇO


Muito coração, irreverência, espontaneidade e inconformismo... mas também muita cabeça. Não é à toa que subsistem há mais de duas décadas. É certo que o ritmo nunca foi o mais acelerado, curiosamente já na veterania se tornaram mais activos, mas tanto ou mais exemplar é a lucidez, a arte e o engenho com que encaram este projecto e o sabem encaixar nas suas vidas e na sua zona geográfica. Sem perder o balanço de «Sobreviver», de 2016, chega-nos hoje «Juízo de Valor», terceiro tomo da vida deste obstinado colectivo de punk (e muitas outras coisas) natural da ilha Terceira, a demonstrar que "velhos são os trapos" e que estão ao nível do Vinho do Porto. A retrospectiva que se exigia com uma privilegiada análise "tema-a-tema", cortesia do guitarrista Freddy Duarte.

Formação: 1997
Origem: Angra do Heroísmo (Terceira, Açores)
Estilo: punk/rock/thrash
Elementos: 
Sílvio Avelar "Vially" (voz)
Freddy Duarte (guitarra)
Vítor Hugo (baixo)
Bruno Pereira (bateria)
Discografia: 
«Palha D'Aço» (demo - 1998)
«Desconcertante» (álbum - 2014 - Anoise Records)
«Sobreviver» (álbum - 30.04.2016 - Anoise Records)
«Juízo de Valor» (álbum - 04.07.2020 - edição de autor)

PASSADO

Nos anos 90 as coisas eram diferentes. Crescemos num meio em que muitos rapazes tinham o cabelo comprido e vestíamos roupas escuras, alusivas aos nossos artistas preferidos. Havia muito rock, muito metal... enfim, era o estilo de música predominante. Os bares passavam música pesada, bem como as discotecas, a MTV, e nem o TOP+ tinha outro remédio. Ah, e o Headbangers Ball! Belos tempos.

Foi nessa altura que os três fundadores da banda se conheceram. O Vially jogava ping pong num clube comigo. Na altura, já sabíamos que queríamos muito fazer barulho, com distorção e percussão. Ouvíamos bandas como METALLICA, SEPULTURA, MEGADETH, PANTERA, entre outros. Foi em Abril de 1997 que fizemos o primeiro ensaio, a convite do Vially, na minha garagem. Ensaiávamos tardes inteiras, acartávamos material pelas ruas acima e abaixo, quilómetros de cada vez, se necessário. Não tocávamos nada de especial, mas íamos compondo umas brincadeiras. Era muito bom. Gravámos uma demo com quatro músicas em 1998 e demos quatro ou cinco concertos até que em 1999 emigrei. Sempre que voltava de férias arranjávamos maneira de ensaiar e compor.

Quando a banda se reuniu de novo em 2010, o objectivo era lançar um álbum como registo das nossas brincadeiras de garagem. Um punk rock juvenil, divertido, com piada. Saiu então o «Desconcertante», em 2014. Foi nessa altura que decidimos participar no Concurso Angra Rock 2013, e, para nosso espanto, acabámos em segundo lugar. Havia alguns putos da geração mais nova a mexer no pit e alguns da velha guarda lá atrás. Achámos piada. Entretanto, mais um segundo lugar no Angra Rock do ano seguinte, até que, em 2015, vencemos. Acabámos mesmo por fazer um segundo álbum, do qual nos orgulhamos, chamado «Sobreviver».

Nos últimos anos continuámos a ensaiar e demos alguns concertos, mas o foco era mesmo o terceiro álbum, «Juízo de Valor», que sai já a 4 de Julho.

PRESENTE

Todos já tocámos em muitas bandas. São 25 anos de música! Aliás, penso que o Vítor Hugo toca em dez bandas, pelo menos, algumas com mais sucesso que outras. Pessoalmente, participei em cinco álbuns, a contar com este, em três bandas diferentes. Digo, em meu nome, e penso que também em nome de todos na banda, que este trabalho é o melhor e o que mais nos orgulha, porque a composição foi executada com calma, com muita paixão e camaradagem e o resultado é que não há nada que desgoste no álbum. Este disco é o melhor possível, neste momento, e isso deixa-me orgulhoso. É bom poder ouvir algo que nos levou ao nosso limite ou para além dos nossos limites individuais, ao nosso melhor. Os sons que nos foram saindo foram quase sempre uma mistura de estilos como o thrash, punk, prog, metal. Deixo-vos como uma breve descrição de cada música do álbum:

«Nova Desordem»
Neste álbum temos músicas que exibem um estilo particular dos PALHA D'AÇO, como esta, com um beat à punk, riffs sujos e orelhudos, voz agressiva, baixo dinâmico, mas sempre com algo interessante e diferente a meio da música, a que chamamos de bridge. Todos os temas têm esse elemento, às vezes prolongando-se para um fim de música diferente, por outra vezes voltando ao refrão. Este tema representa, em termos globais, o nosso estilo e a nossa mensagem, que, obviamente, é de intervenção.

«Geringonça»
Esta foi uma música que começou com o riff de baixo do Vitor Hugo. Trabalhámos à volta disso até que saiu o refrão e a letra. Fazemos questão de haver alguma melodia nos refrões, e sempre que possível alguns gang vocals ou seja, coros e várias vozes. A bridge exibe um aspecto experimental na banda, um ritmo de bateria numa espécie de blast, muito agressivo, e também aspectos na pedaleira dupla que não existia antes na banda. Foi um aspecto em que a banda evoluiu desde o «Sobreviver».

«Charlatão»
Esta não esconde as minhas influências de FAITH NO MORE. É uma música de rock alternativo, pelo menos até chegar à bridge, porque aí vai tudo com o c******. É provavelmente, juntamente com a «Janela Suja», o fim de música mais brutal deste álbum. A letra usa uma figura de estilo a que sempre achámos piada, o "baile de máscaras", feita numa altura em que as máscaras eram apenas metafóricas. A música conta com a participação de uma ave muito especial para nós açorianos.

«Janela Suja»
Como podem ter reparado, outra metáfora. Esta malha fala das diferentes prespectivas sociais - a de quem vê quem está lá fora, a sofrer, através de uma janela suja, e a de quem está lá fora e olha para dentro, se calhar sem muita inveja. Há nesta uma mistura de sons punk/metal com uma bridge que também é muito dinâmica e progressiva.

«Mafia»
Temos músicas mais lentas, como esta, que tem muito groove e uma letra que encaixou perfeitamente desde o princípio, com um refrão muito catchy. A bridge mistura thrash com melodia, para uma saída muito à METALLICA.

«Silêncio Frio»
Esta foi a primeira música a ser feita, portanto, teve muito tempo para amadurecer e, por isso mesmo, está cheia de detalhes que, embora simples, fazem a diferença. O refrão é provavelmente o meu preferido deste álbum, porque a melodia e letra encaixam perfeitamente. Há elementos thrash, mas é essencialmente metal alternativo, e conta com uma voz feminina especial.

«Verdade»
Esta é a mais rápida do álbum, com muito thrash à mistura. Tem uma bridge com elementos a lembrar TOOL e acaba com uma mensagem fundamental em punk rock.

«Surreal»
Esta é a balada do álbum. É a única que não é política por natureza, trata-se apenas de uma introspecção, uma auto-análise, um desabafo. Muito destaque para o baixo e refrões catchy, com melodia.

«Instinto Animal»
Esta é old school, com um tema político local. A bridge sai para umas tentativas de solo, que não são, de modo nenhum, a minha "praia", mas penso que no global uma música bem conseguida, com versos e refrões que dão muito prazer tocar. Muita pedaleira dupla e baixo.

FUTURO

Para o futuro, a nossa intenção é continuar a fazer disto o nosso hobby preferido, quiçá com alguns concertos em Portugal continental!


Oiça «Juízo de Valor» na íntegra aqui.

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